domingo, 19 de maio de 2013

Exame do estado mental - Esquizofrenia.



INSTITUTO POLITÉCNICO DE VISEU
ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DE VISEU

20º Curso de Licenciatura em Enfermagem



Estudo de caso:
 Observação Sistematizada
Esquizofrenia


 


               









Autor:
Nuno Ricardo Almeida e Cova, Nº 1268


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Viseu, 2012

INSTITUTO POLITÉCNICO DE VISEU
ESCOLA SUPERIOR DE SAÚDE DE VISEU

20º Curso de Licenciatura em Enfermagem


Estudo de caso:
 Observação Sistematizada
Esquizofrenia



 










Autor:
Nuno Ricardo Almeida e Cova, Nº 1268





Viseu, 2012

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1.    INTRODUÇÃO………………………………………………...…………….……….4
2.      FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA – ESQUIZOFRENIA……. ……………………5
2.1. CONCEITO / EPIDEMIOLOGIA / ETIOLOGIA / CURSO DA DOENÇA...5
2.2. DIAGNÓSTICO / CLASSIFICAÇÃO DE ESQUIZOFRENIA……………...5
          2.3. SINTOMATOLOGIA DA ESQUIZOFRENIA………………………………...6
2.4. TRATAMENTO………………………………………………………………….7
3.    COLHEITA DE DADOS/HISTÓRIA CLÍNICA……………………………………7
3.1. IDENTIFICAÇÃO DA UTENTE……………………………………………….8
3.2. MOTIVO DO INTERNAMENTO………………………………………………8
3.3. HISTÓRIA PESSOAL E PSIQUIÁTRICA……………………………............8
3.4. HISTÓRIA FAMILIAR………………………………………………………….9
3.5. HISTÓRIA DA DOENÇA ACTUAL …………………………………………10
4.    EXAME MENTAL…………………………………………………………………...10
5.    PLANO DE CUIDADOS...................................................................................14
6.    FOLHA DE FARMACOLOGIA.........................................................................17
7.    CONCLUSÃO...................................................................................................19
8.    BIBLIOGRAFIA................................................................................................20


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1.   INTRODUÇÃO
             Este trabalho é um projeto, que nos foi proposto, no âmbito do Ensino Clínico V- Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica, a decorrer no DPSM – do Centro Hospitalar Tondela-Viseu, no ano lectivo 2012, sob orientação dos enfermeiros: Carlos Santos e Ana Campos e coordenação da Professora Doutora Lídia Cabral.
Para a realização do mesmo, seleccionei de entre as vinte e duas utentes internadas no serviço, a Sr.ª R, com diagnóstico médico de Psicose Esquizofrénica.
Decidi escolher esta utente para realizar este estudo pelo desconhecimento da sua história e para no fundo entender quais as causas da sua angústia e sofrimento.
              A metodologia usada na realização deste trabalho foi a observação e a entrevista à utente, complementada com a análise pormenorizada do processo clínico da mesma e informações fornecidas pelos enfermeiros.
  Este estudo de caso, visa principalmente conhecer de uma forma mais detalhada a situação clínica desta senhora, os respectivos cuidados de enfermagem, aprofundar os conhecimentos teóricos e comparar a teoria com a prática. Este estudo será dividido nas seguintes partes:
·         Fundamentação teórica – breve abordagem sobre esquizofrenia;
·         História Familiar/Psiquiátrica;
·         Exame do estado mental;
·         Folha de farmacologia;
·         Plano de cuidados;
              Deste modo, tenho como objectivos ao elaborar este trabalho: Identificar os mecanismos desencadeadores do quadro clínico, bem como, avaliar a evolução do estado da utente e seu comportamento; Conhecer as manifestações clínicas da patologia em causa; Identificar os problemas da doente e elaborar um plano de acção e posteriormente avaliar as estratégias usadas; Consolidar a matéria teórica leccionada ao longo do semestre e ficar mais capacitado para lidar com doentes com esta patologia; Permitir um contacto mais próximo com o doente psiquiátrico, por fim, eliminar o estigma que existe em torno dos indivíduos portadores de doença psiquiátrica.

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         2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA - ESQUIZOFRENIA

2.1. Conceito / Epidemiologia / Etiologia / Curso da doença
Segundo a DSM-IV, a esquizofrenia faz parte do eixo I, e é definida como um conjunto de distúrbios, caracterizados por uma evolução crónica e deteriorante, com fases de agudização psicótica de etiologia multifactorial (biológica, psicológica e social). É uma patologia estatisticamente transcultural, com uma incidência de cerca de 1 a 1,5%.
Trata-se de uma situação clínica em que ocorre uma cisão com a realidade, condicionando, por isso, os pensamentos, o comportamento e a relação do indivíduo com os outros.
GIACON E GALERA (2006, p. 288) ressaltam que a doença tem como formas de início, a aguda e insidiosa, onde a forma insidiosa tem um ínicio mais ameno, porém quando não tratada evoluiu para deterioração e exacerbação.
O seu aparecimento normalmente surge no final da adolescência ou no ínicio da vida adulta, tanto em homens quanto em mulheres, no entanto, nos homens a doença é mais precoce em relação ao sexo feminino. Em geral, os homens têm um ínicio em torno dos 18-25 anos e as mulheres em torno dos 25-35 anos. (CHAVES ,2005, p. 21 ) .
 De acordo com WANG, MINATOGAIA E TAVARES (2006) existem os seguintes períodos evolutivas da doença:


  • Fase prodrômica: onde há retraimento social gradual, diminuição de interesses, mudanças na aparência e higiene, alterações cognitivas, comportamento bizarro ou excêntrico;
  • Fase activa: quando há alterações na forma e conteúdo do pensamento, distorções da percepção, prejuízo da volição, inadequação do afecto, alteração do juízo, declínio cognitivo e de funcionamento social.
  •  Fase residual: ausência de sintomas da fase activa, porém, há evidência de perturbação, como por exemplo, a existência de crenças bizarras, experiências perceptuais incomuns, afecto inadequado.

2.2 Diagnóstico / Classificação de esquizofrenia

O diagnóstico da esquizofrenia, como sucede com a maior parte das doenças do foro psiquiátrico, não se pode efectuar através da análise de parâmetros fisiológicos ou bioquímicos, e resulta apenas da observação clínica cuidada das manifestações da doença ao longo do tempo. Aquando do diagnóstico, é importante que o médico exclua outras doenças ou condições que possam produzir sintomas psicóticos semelhantes (abuso de drogas, epilepsia, tumor cerebral, alterações metabólicas). O diagnóstico da esquizofrenia é, por vezes, difícil. Para além do diagnóstico, é importante que o médico identifique qual é o subtipo de esquizofrenia em que o doente se encontra.
Actualmente, segundo o DSM IV, existem quatro subtipos: nomeadamente Paranóide, Catatónica, Desorganizada ou Hebefrénica e Indiferenciada.
       Na esquizofrenia Paranóide predominam os delírios persecutórios, na Catatónica as alterações da postura motora, na desorganizada a sintomas negativos nomeadamente (desleixo, bizarria, embotamento dos afectos e desorganização dos pensamentos), por fim na Indiferenciada apresentam-se características de mais que um subtipo. Estes subtipos não são estanques, podendo um doente em determinada altura da evolução da sua doença apresentar aspectos clínicos que se identificam com um tipo de esquizofrenia, e ao fim de algum tempo poder reunir critérios de outro subtipo.
Também se pode falar na classificação de Crow, ou seja, existem dois tipos: o tipo1 caracterizado por um «acréscimo de função» (sintomas positivos: ideias delirantes, alucinações) e o tipo2 (caracterizado por perda de funções previamente adquiridas: discurso pobre, embotamento afectivo, apatia).

2.3 Sintomatologia da esquizofrenia

Os sintomas da esquizofrenia não são os mesmos de indivíduo para indivíduo, podendo aparecer de forma insidiosa e gradual ou, pelo contrário, manifestar-se de forma explosiva e instantânea. Os sintomas da esquizofrenia encaixam-se em três categorias gerais: 
1) Sintomas positivos são pensamentos e percepções diferentes como alucinações, delírios e desordens no pensamento e movimento.
2) Sintomas negativos representam a perda ou diminuição na capacidade de iniciar planos, falar, expressar emoções ou encontrar prazer na vida quotidiana. Estes sintomas são difíceis de reconhecer como parte da esquizofrenia e podem ser confundidos por preguiça ou depressão.

3) Sintomas cognitivos são problemas relativos: á atenção, a certos tipos de memória e funções de execução que nos permite planear e organizar. Os deficits cognitivos também podem ser difíceis de reconhecer como fazendo parte da esquizofrenia, porém são os mais incapacitantes, de modo a que os doentes ficam impossibilitados de levarem uma vida normal.

2.4 Tratamento

O que se preconiza como tratamento é o tratamento farmacológico (antipsicóticos clássicos, antipsicóticos atípicos, bensodiazepinas, antidepressivos, e electroconvulsivoterapia) e o tratamento psicossocial (nomeadamente psicoterapias individuais e de grupo).
Segundo GIACON E GALERA (2006, p. 288) é comprovado que o tratamento rigoroso com antipsicóticos ajuda na melhora dos sintomas, mantendo o paciente tranquilo e estável, evitando assim sua piora. O tratamento farmacológico deve ser mantido, pelo menos, durante os dois primeiros anos, após o primeiro surto, para controlar uma recaída mais violenta (GIACON E GALERA, 2006, p. 289).
De acordo com ZANINI (2008 p. 47) além do tratamento medicamentoso, outro método utilizado é a psicoterapia onde são utilizadas abordagens educativas, interpessoais ou dinâmicas visando recuperar o individuo no nível psíquico, interpessoal e social.
De acordo com GIACON E GALERA (2006, p. 290), a assistência de enfermagem inclui implementar avaliações biopsicossociais com atenção às características culturais do paciente, criar e implementar planos para melhorar as condições de saúde do paciente e de sua família, orientar o paciente e família sobre as características da doença, do tratamento e sobre os recursos disponíveis, promover e controlar, dentro da saúde mental, os efeitos da doença através do ensino, da pesquisa, proporcionando adequado aconselhamento à família e ao paciente, coordenar sistemas de integração de cuidados que integrem as necessidades do paciente e da família, promovendo um entendimento e uma melhor aceitação da doença, o que leva à melhor adesão ao tratamento e uma melhor reabilitação social.

3. COLHEITA DE DADOS / HISTÓRIA CLÍNICA

3.1 - Identificação da Utente

A Sra. R. é de raça caucasiana, tem 26 anos, é solteira, vive com os pais, é da religião católica. Refere que está a tirar um curso de análises clínicas, curso este que interrompeu no ano passado por motivos de doença.

3.2  - Motivo do internamento
           
Deu entrada nas urgências trazida pelo pai que trouxe informações do tribunal onde é aconselhado, internamento compulsivo da Sr.ª R.. Diagnosticada como tendo uma psicose esquizoafetiva, ainda que estranhamente não cumpra nenhuma terapêutica prescrita, e reaja com intolerância à frustração.
            Segundo a Sra. R. o motivo deste internamento foi: “Deixei de tomar a medicação, depois tive um pressentimento de que iam abusar de mim, explodi, fechei-me no meu quarto e o meu pai rebentou a porta” e após este episódio o pai requereu o internamento compulsivo do qual disse “não fui informada”.           
                       
3.3  - História pessoal e psiquiátrica
.
A Sra. R. nasceu em Coimbra, tendo depois mudado para Tondela onde completou o ensino primário e secundário, refere “sempre fui uma rapariga desequilibrada”, e diz que iniciou o consumo de drogas aos 12 anos, diz que já fez várias sessões de terapia de grupo, uma das quais aos quando tinha 21 anos na Quinta do Outeiro em Vila do Conde, que refere ter sido o ponto em que a sintomatologia que hoje apresenta começou a ser mais visível.
 Quando questionada sobre se tem irmãos refere que não, mas remata com “pelo menos é o que dizem, desconfio que sim, mas não posso provar”.
Refere que algo que adorava fazer era nadar mas que deixou de o fazer porque os amigos se afastaram devido aos problemas com as drogas e que deixou de ter com quem ir ao rio, “só tive uma felicidade na minha vida, que era o nosso grupo de amigos, mas depois comecei a consumir e afastaram-se.
Refere ter sido submetida a uma cirurgia ao colo do útero no IPO por volta dos 17 anos necessária devido a uma infecção por HPV onde diz que “Fiquei traumatizada, não soube bem as coisas, não me informaram bem, não descansei depois da operação, fui logo para as aulas”.
Refere ter sido internada no Hospital de Sta. Catarina no Porto, por volta dos 19 anos, devido a um esgotamento causado pelos estudos “verificava as coisas muitas vezes” dizendo que quando saiu a nota de acesso ao ensino superior não acreditava na nota “eu via a nota, saí de lá, desconfiava do valor que tinha visto, e ia verificar de novo, muitas vezes”
Refere ter tido um namorado, o Srº. N. que diz ajuda-la a tomar boas decisões, neste momento é ex-namorado porque “de momento ele diz que não quer estar comigo, quando estiver boa que depois pensamos nisso” fato que parece aceitar e acha que parte da causa dessa decisão deve-se ao fato de ter Hepatite C.
Pensa que é uma grande ameaça para os pais “Acho que sou uma grande ameaça para eles” uma vez que ela pensa que tem memórias recalcadas que podem desvendar informações que pensa usar como prova para desmascarar a rede na qual está inserida “sei os códigos deles, é um soviético que mos manda”, dizendo que consegue recordar-se de algumas coisas “tenho de estar num local escuro, muito calmo”, mas que precisa de fazer hipnose “quero fazer hipnose para me lembrar das memórias recalcadas”
Quanto às prespetivas de tratamento, acredita que vai ficar boa, mas que vai ser difícil “Acho que vou melhorar, mas vai ser difícil” e também que ajudaria o fato de ter uma casa só dela “Precisava de uma casa diferente da minha, que tivesse chave”.

3.4  - História familiar

Não foi possível obter muitos dados acerca da história familiar, mas de acordo com os enfermeiros do serviço, a mãe da Sr.ª R. apresenta um comportamento desadequado, quando durante uma visita, tentou contornar as regras do internamento incentivando a Sr.ª R. a usar o telemóvel e dizendo em voz alta à porta do serviço: “ai se não tivesse visitas partia isto tudo!”, na nota do episódio de urgência, pode-se ler, escrito pelo médico: “Mãe com contato estranho e aparente toque paranóide”. 
A Sr.ª R. tem desde o início do internamento a companhia de uma prima sua, com quem não se dá muito bem, e apresenta sentimentos de culpabilidade pela actual situação da prima, dizendo que: “sinto-me culpada pelo que lhe fiz quando era mais nova, influenciei-a para as drogas” referindo também que já à muito tempo que vem tentando obter o perdão dela, que sempre o recusou dar. Este conflito provoca comportamentos apelativos dirigidos à prima, no sentido de obter o seu agrado e aprovação, pela forma de ofertas, de favores, um dos quais foi disponibilizar um dos seus cremes para a prima, a Srª. J. usar, que ela recusou. Esta recusa motivou nela sentimentos de culpa, de vergonha, de tristeza e angústia, dizendo que: “a minha prima não quer usar o meu creme por causa da doença que tenho, isto não se pega assim tão facilmente, porque é que as pessoas me descriminam?!”
Ela chegou efectivamente a pedir perdão à prima, que aceitou, o que melhorou ligeiramente a relação entre as duas, no entanto, os pensamentos delirantes da Sr.ª R. esgotam a paciência da sua prima “Estou farta dela! Sempre com histórias” e a Sr.ª R. não consegue lidar com essa rejeição, o que culmina em períodos de choro, angústia e exterioração de sentimentos de culpa, e baixa auto-estima.

3.5  - História da doença actual

Numa fase inicial do internamento a Sr.ª R. apresentava uma grande intolerância à frustração, prestes a chegar a hora de ir fumar, perguntando constantemente se já podia ir fumar, quando lhe era dito que não, ficava agitada e ansiosa, este comportamento foi melhorando ao longo do internamento, e agora já aceita melhor quando lhe é negado algo, não ficando tão ansiosa e revoltada, mantém ideias delirantes acerca

Após o exposto é possível concluir que a situação clínica desta doente vai de encontro ao preconizado nos estudos, publicações e teorias sobre esquizofrenia.


4     EXAME DO ESTADO MENTAL

            O exame do estado mental foi realizado através da observação e entrevista psiquiátrica, que foi efectuada no dia  16 de Janeiro de 2012, pelas 16:30, no internamento do Departamento de Psiquiatria e Saúde Mental do Centro Hospitalar Tondela-Viseu - Sector Feminino. A utente estava dentro da sua enfermaria, sentada num cadeirão e fomos interrompidos várias vezes por doentes que vinham arrumar ou buscar pertences seus à enfermaria, sempre que eles entravam fazíamos uma pausa de forma a salvaguardar a privacidade da Sr.ª R.
- Aparência, actividade e comportamento: A Sr.ª R. apresenta-se com um aspeto geral limpo e cuidado, vestindo roupas simples, limpas e adequadas à situação e clima que se faz sentir. Os cabelos estão penteados de forma leviana, algum descuido na forma de vestir, com a roupa desalinhada, desfraldada. Apresenta uma actividade motora muito ligeiramente lentificada, pouco móvel, com um fácies pouco expressivo, ao olhar para mim tem momentos em que olha alternadamente para o meu olho esquerdo e depois para o olho direito alternadamente, muito rápido. Mantém contato visual prolongado e fixo.   Durante a entrevista apresentou-se calma, ficando mais ansiosa e até chorosa quando referia o dilema de querer ir à policia para desmascarar a rede, mas não ter provas e não querer fazer mal aos seus pais.
- Atitude frente ao examinador: Este desde inicio bastante receptiva às minhas questões, mostrou-se bastante disponível para colaborar na colheita e responder a todas as perguntas, mantendo-se sempre colaborante, no entanto, a meio da entrevista referiu vontade de ir fumar um cigarro, e acompanhei-a à enfermeira que lhe confirmou que não poderia ir fumar. Mais para o final da entrevista referiu algum cansaço, pelo que lhe dei liberdade para terminarmos, referindo de seguida “eu aguento”.
- Comunicação com o examinador: Com o decorrer da entrevista apresentou uma atitude amigável/cooperativa e começou a falar de algumas situações da sua vida. Falou espontaneamente com um tom de voz baixo e monocórdico, quanto à progressão da fala apresentou um fluxo ligeiramente lento. 

- Sentimentos despertados: Surpresa relativamente aos delírios apresentados, senti também que tem real vontade de mudar, e senti que gostaria de ajudar a arranjar formas de ela poder esclarecer algumas das suas desconfianças.

Funções mentais

- Consciência: Não observei alterações a este nível, estando num estado de consciência plena.
- Atenção: Não apresentou alterações ao nível da atenção à excessão de uma ocasião em que se esqueceu do que estava a dizer após a interrupção causada pela entrada de uma doente na enfermaria que motivou uma pausa na entrevista.
- Sensopercepção: Não demostrou sinais nem sintomas de actividade alucinatória.
- Orientação: Encontrava-se orientada autopsiquicamente sabendo qual o seu nome, as pessoas que entraram na enfermaria, o meu nome, e qual o papel social de cada um de nós naquele espaço. Também se encontrava orientada alopsiquicamente, informando-me o ano, o mês, o dia, o período do dia e a estação do ano.
- Memória:. Não apresentou alterações ao nível da memória remota, que avaliei no decurso da entrevista pelo relato de fatos com mais de 20 anos, ao nível da memória recente, em que questionei sobre o que tinha visto na televisão na noite anterior, referindo que era um programa de animação do qual não se recordava, por não ter prestado muita atenção. E também ao nível da memória imediata não apresentou alterações quando lhe questionei o que é que a enfermeira estava a fazer quando fomos confirmar se podia ir fumar ou não, referindo correctamente, que estava ao telefone.
- Inteligência: Não apresenta um deficit a este nível na minha humilde opinião, realizei com ela algumas actividades, tais como Batalha Naval, Dominó, Jogo os Pares e ao Burro (Cartas), nos quais apresentou um bom raciocínio e compreensão das regras do jogo.
- Afectividade e humor: A Sr.ª R. apresentou-se pouco expressiva, preocupada com o fato das questões que eu tinha já serem as suficientes para poder realizar o meu trabalho, não procurou exercer qualquer tipo de controlo, e questionou-me se queria eu ficar sentado no cadeirão. Manifestou desespero com intensidade de curta duração, quando deparada com o dilema de querer desmascarar a rede de pedofilia de que se julga alvo, mas ter provas para o fazer, esta manifestação, era acompanhada por choro e por um levar das mãos à face. Quanto ao humor, foi marcado por uma tonalidade emocional em que estiveram envolvidos sentimentos de ansiedade, tristeza, depressão e embotamento afectivo (expressão facial imóvel e voz monótona). Ao nível da modulação do humor apresentou-se normal, quanto à associação pensamento/afeto, esteve congruente. Pareçeu-me que a sua volição está apontada em certa parte para a compensação do seu estado clínico em internamento e na consequente alta, e, também, em arranjar estratégias para averiguar a veracidade dos seus delírios.
- Pensamento: Não detectei alterações na forma do pensamento. Quanto ao conteúdo do pensamento o tema predominante é o delírio persecutório (primário sistematizado) de tonalidade ansiosa, que tem acerca de uma rede pedofilia e tráfego humano liderada pelo pai, de que ela é vitima  “a identidade dele é falsa, tentam-me comprar os óvulos porque tenho habilidades especiais, as pessoas falam comigo por telepatia, mas eu tenho a capacidade de lhes dizer sim ou não” . Este delírio desperta nela sentimentos de ansiedade, culpabilidade e medo. Mantém capacidade de abstracção.
- Juízo Crítico: O juízo crítico está de certa forma alterado, uma vez que, a Sr.ª R. toma decisões que são determinadas pelos seus delírios.
- Conduta: É adequada.
- Linguagem: Falou espontaneamente com um tom de voz baixo e monocórdico, quanto à progressão da fala apresentou um fluxo ligeiramente lento.

Funções Psícofisiológicas

- Sono: Refere que de momento dorme bem, o que se confirma pelos registos de enfermagem do internamento, mas que por vezes em casa, acorda a meio da noite a pensar que lhe vai acontecer alguma coisa.
- Apetite: Durante o internamento inicialmente apresentava um apetite voraz, ingeria a totalidade da dieta e pedia comida dos outros utentes. Pouco tempo após as refeições questionava-nos sobre a possibilidade de lhe darem uma peça de fruta, ou um iogurte.
- Sexualidade: Refere ter tido relações sexuais com o ex-namorado, várias vezes durante o ano transacto.

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5. CONCLUSÃO
            Posso concluir que este trabalho serviu para melhorar as minhas competências pessoais e profissionais. O contacto com a Sr.ª R. e o estabelecimento de uma relação terapêutica com ela foi crucial para desenvolver novas relações e aperfeiçoar as minhas competências. Após a elaboração deste trabalho sinto que fiquei mais esclarecido e elucidado acerca desta patologia que me propus desenvolver. A teoria foi de encontro á evidência clínica desta doença.
            Ao realizar este trabalho a minha maior dificuldade foi no exame mental pois penso que não possuo capacidades suficientes para conseguir identificar todas as características/alterações demonstradas pela doente, também como o curto tempo de contato em internamento com a mesma.
             Assim, de um modo geral, os objectivos propostos no início da realização deste trabalho foram atingidos.


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6.   BIBLIOGRAFIA

Ø  Apontamentos fornecidos pelo Dr. Pinhão nas aulas teóricas sobre esquizofrenia;

Ø  AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - DSM-IV-TR: Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, 4ª ed., Texto Revisto, Lisboa, Climepsi Editores, 2002;

Ø  & WEEB, Kathy – Fundamentos de Enfermagem de Saúde Mental. São Paulo: Lusociência; 2000;

Ø  ESQUIZOFRENIA: Uma abordagem geral, com enfoque na assistência de enfermagem e familiar (Consultado em 16 de Janeiro de 2012). Disponível em <URL: http://www.webartigos.com/articles/26876/1/esquizofrenia-uma-abordagem-geral-com-enfoque-na-assistncia-de-enfermagem-e-familiar/pagina1.html.  

Ø  Esquizofrenia - características clínicas (Consultado em 16 de Janeiro de 2012). Disponível em <URL: (http://www.psicologado.com/site/psicopatologia/psiquiatria/esquizofrenia-caracteristicas-clinicas

Ø  ZUARDI AW & LOUREIRO SR. Psychiatric semiology, Medicina, Ribeirão Preto, 29: 44-53, jan./mar. 1996.